O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responde atualmente por quase 60% dos 154 anos de existência do Sistema Estatístico Oficial que surgiu, em 1871, com a criação da Diretoria-Geral de Estatística (DGE). Ao longo das últimas 9 décadas, o IBGE tem contribuído com a missão institucional de retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania.
Em plena passagem para a Era Digital, o IBGE tem procurado reorganizar suas ações frente ao avanço da desinformação estatística e ao esvaziamento da soberania nacional dos dados. Para isso tem procurado estar em linha com o conjunto das recomendações estatísticas internacionais que apontam para a integração dos bancos de dados e o uso da inteligência artificial e da ciências de dados, conforme conferido pela 56ª sessão da Comissão de Estatística da Nações Unidas, a 12ª Conferência da Comissão de Estatística das Américas da CEPAL, a 73ª sessão plenária da Conferência de Estatísticos Europeus da UNECE, a 17ª reunião dos Chefes dos Institutos Nacionais de Estatísticas do BRICS e a 14ª reunião dos Chefes dos Institutos Nacionais de Estatísticas dos países de língua portuguesa.
Nesse mesmo sentido, a atuação do IBGE tem procurado seguir de modo convergente com o Governo Federal que por meio do programa Conecta GOV.BR do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) permite e facilita a integração dos diferentes bancos de dados pela Interface da Programação de Aplicativos (API’s). Também o acordo de cooperação realizado entre o IBGE e o SERPRO abriu a oportunidade de parcerias que possibilitem o acesso aos diferentes bancos de dados federais, necessário ao fortalecimento das atuais pesquisas estruturais e conjunturais da maior instituição de pesquisa pública do Brasil.
Mas para isso, o Projeto IBGE 90 anos implementado em 2023 visou preparar o reposicionamento institucional por meio dos diálogos internos. Até o ano de 2025, por exemplo, já foram realizados três Encontros Nacionais dos Servidores (ENS), sendo que o primeiro ocorrido em 2023 definiu as novas Diretrizes da Instituição para o período 2023-2026, seguido do segundo ENS, em 2024, voltado para a elaboração do SINGED e o terceiro ENS, em 2025, comprometido com o restabelecimento do Plano Geral de Informações Estatísticas e Geográficas, após meio século de sua inexistência, bem como a introdução anual do Plano de Trabalho Integrado da instituição.
Além disso, também é importante ressaltar a realização pelo IBGE da Conferência Nacional de Agentes Produtores e Usuários de Dados ocorrida em 2024 e a próxima em 2025, ambas voltadas para a construção do SINGED junto à comunidade epistêmica nacional e internacional. Neste sentido, o reconhecimento internacional alcançado pelo reposicionamento institucional em curso, como a próprio da eleição do IBGE pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas para representar o Brasil junto à Comissão de Estatística da Organização das Nações Unidas, a elite mundial das instituições oficiais nacionais de geografia e estatística.
Por fim, mas não menos importante, recuperam-se e valorizam-se o conjunto de iniciativas acumuladas ao longo dos anos pelo próprio IBGE tanto no uso de projeções populacionais com métodos demográficos como as pesquisas experimentais adotadas na integração e pareamento de bancos de dados nas pesquisas conjunturais e estruturais com registros civis, cadastros dos Correios e da Aneel, Censo Escolar, CadÚnico, RAIS, CNPJ, entre tantos outros. Mais recentemente, significativas contribuições ao avanço da nova fronteira estatística e geográfica estabelecida pela Era Digital e pela transição para a economia de baixo carbono vem sendo conduzidas pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE.
Sobressai, por exemplo, o Projeto Inteligência Artificial e Políticas Públicas em marcha com a participação do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas ao Setor Público (Cepapsp) da Universidade Federal de Goiás e do Núcleo de Estudo de Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas. Atualmente já conta com mais de 22 mil artigos e estudos, uma base de pouco mais de mil usuários do Assistente ChatPP e mais de 2 mil capacitados em cursos sobre o uso de Indicadores e do Censo Demográfico no Planejamento Municipal voltados aos desafios locais, planos e cenários de desenvolvimento regional no Brasil.
Do mesmo modo, o Projeto Dinâmica Sociodemográfica, Econômica e Ambiental no Brasil a partir do Censo Demográfico 2022 encontra-se em curso com a cooperação de pesquisadores da ENCE e do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ. Conta com o apoio de recursos do CNPq para o tratamento da análise das desigualdades regionais, étnico-raciais, de gênero, da educação, pobreza, mercado de trabalho, migrações internas e outros temas de múltipla complexidade contemporânea para atender com subsídios adequados às demandas elaborativas de cenários futuros do país.
Nesse contexto, o Projeto Integração de Dados Públicos e Estatísticas Demográficas Municipais desenvolvido no âmbito da ENCE tem o propósito de produzir, experimentalmente, as estimativas anuais de população, por faixas etárias e sexo, para todos os municípios brasileiros a partir da integração de dados do Registro Civil, Estatísticas Vitais, Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos e Censos Demográficos. Com intensivo uso de múltiplas fontes de dados experimenta-se o emprego de técnicas de ajustes e de modelos demográficos que aprimorem as estimativas anuais a todos os municípios do país e ao público-alvo das políticas públicas, como crianças, adolescentes e jovens para educação básica e para serviços de vacinação e atenção básica à Saúde, bem como também a produção de estimativas de mobilidade de população ativa e idosa no território nacional.
Consequentemente, o Projeto Coorte dos 300 milhões de Brasileiros constitui experimento avançado longitudinal nos dados individuais anonimizados dos residentes do país conforme registrado pelos últimos quatro Censos Demográficos (1991, 2000, 2010, 2022). Por esse meio, a preparação da estrutura testável da integração de um conjunto diverso de fontes dos dados e registros administrativos (Registro Civil, Cadastro Único de Programas Sociais, Censo Escolar, Base de Beneficiários da Previdência, etc) preparativos tanto a próxima realização do Censo Demográfico 2030 como a inédita produção de indicadores sobre as principais mudanças sociais, efeitos das políticas públicas e estimativas populacionais para diferentes recortes territoriais, entre os censos e após os censos, com a utilidade, inclusive, nos fatores de expansão das pesquisas domiciliares. Nesta sequência, o Projeto Projeções de Força de Trabalho e Ocupações para Brasil 2040 atua comprometido com a finalidade do desenvolvimento e aplicação, experimental, da metodologia de projeção de força de trabalho e de grupos ocupacionais no país para os próximos 15 anos em conformidade com a base longitudinal de Censos Demográficos e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, própria das Projeções Populacionais do IBGE e dos Cenários Prospectivos produzidos pelo Ministério do Planejamento e outros órgãos governamentais. Para isso, considera determinantes demográficos, condicionantes socioeconômicos, cenários de políticas públicas e impactos tecnológicos trazidos pela difusão da Inteligência Artificial (IA), capazes de estimar, por exemplo, tanto os públicos-alvo de Ensino Técnico, Educação Superior e Especialização Profissional como a antecipação de possíveis impactos da IA e das novas tecnologias sobre o mundo do trabalho no Brasil.
Resumidamente, o reposicionamento do IBGE, brevemente atestado pela breve descrição anterior, incorpora ainda mais o valor na cadeia construtiva do SINGED por meio da concretização do Programa Nacional de Inteligência e Governança Estatística e Geocientífica para Políticas Públicas Preditivas. Com a recente transformação do IBGE em Instituição de Ciência e Tecnologia, reconhecida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) devido às suas atividades de ensino e pesquisa, o fortalecimento do instituto na produção do conhecimento e inovação técnica assumindo a condição de centro da referência nacional e mundial em pesquisa e desenvolvimento.
Após a sua concepção e longa preparação interna com profissionais do IBGE, a apresentação e discussão junto ao Conselho Diretor e fórum da alta administração representado pelos diretores, Superintendentes e Coordenadores, o Programa Nacional de Inteligência e Governança Estatística e Geocientífica para Políticas Públicas Preditivas passa a se tornar realidade. Para tanto e concomitante com a recriação, após mais de duas décadas de abandono, do Conselho Técnico, agora contando com representantes da presidência da República, ministérios e da sociedade, o IBGE concede mais um passo fundamental no seu processo permanente de modernização institucional frente aos gigantescos desafios estabelecidos pela Era Digital.